segunda-feira, novembro 28, 2005


Mãe. Pai.
Olhem bem para mim,
vejam bem o pequeno grande monstro que criaram.
Fizeram-me acreditar
que tudo estava bem
até ao dia em que começei a
chorar.
Eu, forma de vida primitiva
e inconcebida conservada
num frasco de furmol, sou
apenas uma fechadura sem
chave, uma cidade
sem porta de entrada, um
crente sem fé, uma estória
inacabada, sexo sem prazer,
uma arrepiante memória negra.
Vou ao médico. Cura-me. Qual é a
causa da minha inexistência?
Esta loucura destroi-me como que
balas que desmembram um vidro
num filme mudo.
Sou uma carta sem destinatário,
uma boa intenção que correu mal.
Sou incompleto.

Memórias de um monstro louco